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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Inscrições abertas para mestrado/doutorado no EGC/UFSC com nivelamento a distância

No ano passado foi uma novidade que resultou na duplicação do número usual de candidatos (300-500 para ~750). A divulgação aqui neste blog gerou um campeão de acessos e trouxe, pela primeira vez, leitores de Angola e Moçambique. Divulgo novamente a abertura de inscrições para os candidatos ao ingresso, em março de 2011, no mestrado ou doutorado no EGC/UFSC (Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina).

As informações detalhadas estão no edital 07/2010, publicado na página do EGC. Novamente, o Programa realiza um curso de nivelamento a distância, com avaliação que faz parte do processo seletivo e não restringe a oportunidade segundo a proximidade geográfica. As inscrições estão abertas até 30 de julho. O edital, não este blog post, é a fonte oficial.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A urna eletrônica está nua (E daí? Faz anos...)

Eu não esperava ler ou ouvir qualquer coisa sobre política de verdade num ano de eleição presidencial e de Copa do Mundo, mas eis que um improvável grupo de bravos brasileiros resolve falar sério: o Comitê Multidisciplinar Independente (CMind) lançou recentemente o Relatório sobre o Sistema Brasileiro de Votação Eletrônica (1a versão, 105 páginas). Há também um Sumário Executivo (2 p.).

Ok, temos a urna eletrônica, um projeto muito bem-sucedido e que ficou ainda mais em evidência depois dos problemas norte-americanos na primeira eleição presidencial de George W. Bush. O problema, como é comum, não está na tecnologia, mas nas pecinhas que gerenciam a coisa. O relatório do CMind aponta as barbaridades do nosso sistema de votação eletrônica rejeitado "pelos mais de 50 países que o estudaram". Os problemas são conhecidos muito bem e há muito tempo, mas o Comitê Multidisciplinar do TSE (oficial e poliana ou coisa pior) conseguiu varrê-los para baixo do tapete, no seu relatório aprovado em 2009.

Este sistema eleitoral brasileiro de mistificação e musiquinha lembra muito o 1984 de Orwell. "Eleição" e "democracia" deveriam ter muita coisa a ver uma com a outra, mas aqui no Brasil viraram quase antônimos. É muita coragem dos 10 do CMind, de quem me sinto devedor. Não sei se conseguirão 10 segundos de Jornal Nacional (não vou saber porque não vejo, mas duvide-o-dó), mas dou meus 2 centavos aqui, blogando. Quem puder, ajude.

domingo, 21 de março de 2010

Peer review dos gringos (e a nossa)

O blog Química de Produtos Naturais, do professor Roberto Berlinck (USP São Carlos), divulgou (aqui) este editorial da Nature Chemical Biology que descreve seu processo de peer review. Eu aproveito para destacar algumas caraterísticas (e confrontá-las com a peer review usual nas agências de fomento do Brasil, na qual há revisão e há "pares" - e isso resume as semelhanças):

  • O comitê avaliador é responsável por tomar decisões (não, o resultado não é uma média aritmética dos escores dos revisores, até porque cada revisor tem sua régua peculiar).
  • O comitê toma uma decisão considerando os pareceres dos revisores e comunica a decisão os autores, anexando cópias dos pareceres consubstanciados (sim, na peer review a vera, sempre há pareceres, sempre são consubstanciados, e sempre são devolvidos aos autores; não, a mera comunicação "foi/não foi aceito" não seria suficiente).
  • O comitê informa os revisores sobre a decisão e distribui cópias dos pareceres também aos revisores (não, longe disso - o objetivo do processo não é manter o statu quo; pelo contrário, o revisor que tem a chance de aprender com seus colegas ganha a oportunidade de verificar se está puxando o nível para cima ou para baixo; o convite para avaliar não é uma concessão para "construção de igrejinha").

Ou seja, quem dirige o processo compreende que não se trata apenas de selecionar trabalhos científicos, mas de conduzir um processo seletivo no qual não se exclui voluntária e obstinadamente a reflexão. É permitido pensar; é permitido aprender; é necessário explicar a decisão. E olha que a avaliação conduzida pela revista não envolve recursos públicos (pelo menos, diretamente).

Uma observação final: o debate acalorado, as acusações sérias à peer review como método de avaliação e controle de qualidade diz respeito a essa forma de avaliação praticada pela Nature Chemical Biology. Os gringos sequer concebem uma peer review sem feedback - isso é invenção brasileira.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

VI Workshop do EGC: concept clouds

O Workshop anual do EGC (Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC) é um evento interno no qual são apresentados temas de interesse da engenharia, da gestão e da mídia do conhecimento desde pontos de vista de organizações públicas e privadas e de pesquisadores externos ao Programa. Também discutimos o que fizemos, o que vimos fazendo e os rumos que seguimos. Na página do VI Workshop (2-4/12/2009) há detalhes sobre a programação, palestrantes etc.

Este blog post é dedicado a uma curiosidade e a uma constatação, ambas típicas do fenômeno Web 2.0. A curiosidade é a evolução das nuvens de termos (concept clouds, construídas com o Wordle) usados pelos (cerca de 60) alunos ingressantes no Programa em suas propostas de tese ou dissertação construídas e submetidas à crítica dos pares nos Seminários de Pesquisa mandatórios e prévios ao Workshop. Eis a nuvem de conceitos para as propostas dos ingressantes em 2007 (clique sobre a figura ou abra em outra janela se quiser enlarguecer).


Não poderia ser diferente: o objeto de pesquisa do programa, o conhecimento como fator de produção, deu origem ao termo mais intensamente usado. Ainda não se falava tanto em TVD, mas "digital" aparece como um dos 150 termos mais usados (em vermelho, na parte inferior centro-esquerda da figura) exceto stopwords. Em 2008, na figura a seguir, nota-se um pequeno crescimento relativo de "conhecimento". "Digital" (em azul, à direita de "pesquisa") também cresceu e agora aparece "tv" (à esquerda, entre "conhecimento" e "pesquisa").


Em 2009, o tamanho relativo de "conhecimento" é ainda maior, e a importância da TVD fica visível no tamanho dos termos "tv" e "digital" (ambos um pouco à esquerda de "conhecimento"):


A constatação, o outro ponto que vale mencionar, é o impacto da inovação do EGC no processo seletivo para o ingresso no mestrado e doutorado em 2010, com um curso de nivelamento a distância com trabalhos pontuais e prova final, além da análise do currículo Lattes e do anteprojeto de pesquisa (que sempre foram requisitos do processo seletivo de ingresso). Em agosto deste ano, tuitei e bloguei aqui (EGC inova ingresso 2010 com nivelamento a distância).

O impacto mais visível é dado pelo número de candidatos inscritos: 757 (quase 13 por vaga), dos quais 216 foram aprovados no curso a distância e prova (próximo a 4 candidatos por vaga antes da etapa final, de análise do anteprojeto). Mas este blog tem uma medida adicional do impacto: apesar de ser o 21o post de 31 (contando o presente), esse "EGC inova ingresso..." tornou-se rapidamente o mais acessado (7% do tráfego), com leitores de Brasil, Portugal, Angola e Moçambique. Até o momento, aliás, o post sobre o nivelamento do EGC é o único motivo que trouxe os africanos a este blog. Isso pode ser constatado acessando o gadget "Leitores recentes" à direita, clicando sobre o mapa-mundi que mostra a origem dos acessos ao blog e, depois, clicando sobre as bandeiras moçambicanas e angolana.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para criticar a Bunge

[Aos avoantes que chegaram googlando, esclareço que o "a" do título é uma preposição e não um artigo. Isto é, "Para criticar a (Mario) Bunge" e não, por exemplo, "Para criticar a (empresa) Bunge". Pronto, esclarecido.]

Sou um bungeano da nova cepa, isto é, minhas leituras de Mario Bunge começaram por Emergence and Convergence (texto quase completo no Google Books), de 2003, publicado muito tempo depois do seu Treatise on Basic Philosophy (anos 1970-80) e outras peças mais conhecidas. Logo no capítulo 3 de E&C Bunge introduz o modelo CESM (composition-environment-structure-mechanism) de sistema, coisa que logo me pareceu poderosa, simples, muito esclarecedora e útil para modelagem de sistemas (computacionais, inclusive). A primeira aparição do CESM que conheço é de um artigo de 1997, onde toda a essência do modelo está presente aos pedaços (não há o enunciado "este é o CESM"). Tratando-se do nonagenário Bunge, portanto, é coisa muito recente.

O problema é que, de tanto citar (o modelo CESM em particular e o sistemismo em geral), corro o risco de ser visto como especialista em Bunge, quando na verdade sou um diletante que encontrou algo muito útil na filosofia bungeana. Suponho que leva muito mais tempo para passar de diletante (com minha formação em engenharia, que praticamente exclui filosofias e "humanidades") a especialista em tão vetusto assunto.

Ainda assim (ou seja, mesmo me excusando), não estou livre de ser interpelado como conhecedor da filosofia de Bunge - em especial, por alunos. Uma das cutucadas mais inconvenientes é "Quais são as principais críticas contrárias a Bunge?" (pois é óbvio que las hay, e eu deveria conhecer). Bem... Além dos ataques frontais à psicanálise (que é um embuste, que fica no mesmo balaio da astrologia), Don Mario já emitiu algumas opiniões sobre rock (que não é música) e futebol (que não é um fenômeno social, mas esportivo) que, longe de suas contribuições principais à ontologia e à epistemologia, é por onde alguns críticos o desmerecem.

Pois bem: Vi no blog GrupoBunge a "denúncia" de um blog post difamatório (em outro blog) que já recebeu mais de 100 comentários, grande parte deles de excelente qualidade. Esse blog post, em si, tem algumas virtudes, mas é superado em muito por diversos comentaristas (embora também haja algum bate-boca nas cento e tantas entradas). Eu até comentei no GrupoBunge sobre o que li (e me diverti) no tal blog post, de onde destaco um comentário sintético e "na mosca", a meu ver:

Comentário #13 por Carlos González, Abril 6, 2007:
“El problema, o lo que molesta, de autores como Bunge y otros, es que tratan de demarcar límites bien establecidos entre disciplinas, artes, etc. (independientemente si lo compartimos o no), lo que va en contra del discurso predominante de lo políticamente correcto: de la integración y respeto hacia el otro en todas sus facetas. En general, salirse de lo políticamente correcto es un trabajo sucio y sólo para cojonudos (‘los hay en todos los bandos, no sólo en los liberales de derecha’).
En todo caso, me reí muchas veces con la columna y tb los comments.”

Sem mais delongas, para quem gosta de filosofia da ciência e de debates nesse mundo 2.0, eis o tal blog post:

Mario Bunge: un charlatán más en el reino de los charlatanes, em 16 de novembro de 2006, no blog "Soy donde no pienso", por Leandro Andrini (por coincidência, um físico de La Plata, como Bunge).

sábado, 7 de novembro de 2009

Natural gestures, wearable sixth sense - now that's knowledge media
[Gestos e 6o sentido para vestir - isso é que é mídia do conhecimento]

[Post com versão em PT, mais abaixo]

"Ideas worth spreading" is the motto of TED Talks. Well, instead of talking about it, I better direct you to "Pattie Maes and Pranav Mistry demo SixthSense" (8:45, see embedded video below). Just like "Rebecca Saxe: How we read each other's minds" (16:54, about MRI-ing moral judgements), it is a new technology received with both awe and apocalyptical remarks (because we advance in technology keeping the same moral challenges and dilemmas from Plato's time and before - look's like there is room for new "moral technology"). Some inspiration for us at EGC/UFSC (Graduate Program in Knowledge Engineering and Management), in which "knowledge media" is one of the research areas.

O lema de TED Talks é "Idéias que valem espalhar". Melhor do que me delongar em comentários é apontar para "Pattie Maes and Pranav Mistry demo SixthSense" (8:45, vídeo clicável abaixo - se preferir, clique em "View subtitles" e assista com legendas em português). De forma semelhante ao que vemos em "Rebecca Saxe: How we read each other's minds" (16:54, sobre analisar julgamentos morais usando ressonância magnética), é uma nova tecnologia recebida com tanto fascínio quanto horror apocalíptico (porque o fato é que avançamos na tecnologia, mas os desafios e dilemas morais são os mesmos de tempos imemoriais, sem grandes avanços na "tecnologia moral"). Uma inspiração e tanto para nós do EGC/UFSC, que tem a Mídia do Conhecimento como uma das áreas de concentração.



terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um passo à frente (peer review com feedback)

Tenho sido acusado - justamente, eu assumo - de ser obcecado por revisão pelos pares na aprendizagem. Conquistei essa fama porque venho fazendo e propagandeando desde 1997, depois de experimentar como aluno em 1994, na Virginia Tech, assistindo CAD I, lecionada pelo co-orientador de doutorado Jan Helge Bøhn.

Lembro que o contato com este segredo ferozmente guardado (como se avalia ciência e como é a experiência de participar do processo) representou muito para mim. Achei tudo muito elucidativo e estimulante. Perguntei a mim mesmo por que seria que os milhares de doutores que o Brasil forma e formou no exterior não compartilham esse segredo (assumindo que os que se formam no Brasil não têm mesmo como adivinhar como se faz).

De volta ao Brasil, não resisti um ano até experimentar com meus alunos, na graduação (com fracassos épicos e sucessos idem, como conto em alguns relatos). Depois, com a oportunidade de fazer na pós-graduação stricto sensu, acabaram os fracassos épicos. Sempre foi de bom para melhor.

Mais complicado do que segurar o repuxo dos fracassos foi explicar para os pós-graduandos que vão adiante e se aventuram a submeter proposta de pesquisa a algum órgão de fomento que aquela peer review que experimentamos em classe não é bem a mesma que fazem as maiores agências de fomento brasileiras. Nessas, tem peer, tem review, mas não tem o que no exterior é tão básico que nem acharam importante incluir no nome: feedback, retorno, resposta. Peer review sem feedback, uma invenção brasileira. E não adianta solicitar, pedir, argumentar, replicar, treplicar. Não tem feedback e continuar insistindo é algo muito malvisto.

Quem sabe, porém, a coisa esteja mudando. Li recentemente em um edital: "Para propostas recomendadas, será definido o valor a ser financiado [...]. Para propostas não recomendadas, será emitido parecer consubstanciado contendo as justificativas para a não recomendação." Fica evidente, na redação, o pressuposto de que só aos derrotados interessa saber os motivos, de que a questão é pecuniária. Mas é um avanço.

Não diz que os pareceres anônimos serão retornados, respondidos, fed back aos proponentes, mas dá para supor que sim. E, se for assim, chegará ao fim o desperdício do conhecimento produzido no processo de avaliação e a condenação da comunidade brasileira à não-aprendizagem com seus erros e acertos em propostas de pesquisa. Fica um pouco mais difícil a um avaliador, também, fazer impunemente um parecer incompetente ou coisa pior.

Talvez eu, com minha obcessão pela peer review, esteja vendo coisa demais nessas 2 sentenças. Sei que vozes importantes na comunidade acadêmica acham que o problema maior está na outra ponta - as propostas aprovadas que recebem financiamento, depois apresentam seus relatórios... e o que mesmo contribuíram? Talvez seja isso mesmo: o maior problema do financiamento à pesquisa é a falta de uma avaliação efetiva de resultados (e as atitudes que devem derivar dessa avaliação efetiva). Mas há um avanço. Peer review com feedback é um avanço. Com o quarto de século de atraso regulamentar (como ensina Maria da Conceição Tavares), já podemos discutir os problemas sérios da peer review legítima.

domingo, 4 de outubro de 2009

Mario y Mercedes, vitórias e tragédias

Meu último post 90 anos de Mario Bunge merece esta sequência. Fermín Huerta, um dos mais ativos contribuidores, postou no blog GrupoBunge o link de uma homenagem ao aniversário publicada pela revista política SinPermiso, composta por testemunhos de diversos acadêmicos que conheceram e foram influenciados pelo físico e filósofo argentino-canadense.

Dos 14 pequenos textos, tiro 3 pílulas para apresentar aqui:

  1. Esta pequena conclusão de Anna Estany (catedrática de Lógica e Filosofía da Ciência na Universitat Autònoma de Barcelona) que tanto nos diz respeito, aqui no EGC/UFSC, quanto aponta o filósofo portenho-esquimó como profeta dessa vanguarda que engrossamos:
    Parece que hemos llegado a un punto de inflexión en el que se necesitan campos interdisciplinares para abordar fenómenos complejos, y aquí es donde la figura de Bunge emerge como una alternativa para poder hacer reflexiones transdiciplinares.
  2. Esta pequena entrevista com Bunge apontada por María Manzano (também catedrática de Lógica e Filosofía da Ciência, mas em Salamanca) e concedida a seu filho Ulises Tindón, então pelolargo calouro universitário, com respostas a 4 perguntinhas tão condizentes com a idade do perguntador quanto encantadoras:
    ¿Qué recomendarías a un chico de mi edad como futura carrera?
    ¿Es la sociedad de hoy en día más justa que la que te tocó vivir en tu juventud?
    En mi libro de filosofía te consideran como uno de los representantes actuales del monismo emergentista ¿Consideras que esto se corresponde con la realidad?
    ¿Qué piensas sobre internet?
  3. E a mais bela das homenagens, que permite vislumbrar um pouco do que de melhor Bunge inspira: El Don del Fuego, por Rafael González del Solar (filósofo e tradutor argentino, professor de Filosofía na Universitat Autònoma de Barcelona):
    Los antiguos griegos intentaron explicar el mundo con sus mitos. El ejemplo en el que pienso acaba con el héroe encadenado a un monte mientras un águila le devora el hígado. Los mitos pueden inspirar y entretener, pero no describir o explicar; mucho menos, predecir. Hace mucho que no creo en dioses ni en demonios y sin embargo no he perdido la fe. Me refiero a esa confianza de ojos abiertos que tanto le gusta a Mario, la que está fundada en la razón y en la experiencia. Mi fe, mi confianza, está con los hombres, especialmente con aquellos que, como Mario Bunge, tienen vocación de titán.

O devaneio dominical por páginas espanholas também me permitiu o privilégio de encontrar, no mesmo dia da publicação, o que pensa Mario Bunge sobre El inicio de la decadencia política en Argentina, na edição atual (5) de SinPermiso, de onde extraio este trecho em que Bunge revisa um ato equivocado de políticos progressistas argentinos, entre eles seu pai (para ver qual foi o caso, siga o link acima; meu interesse aqui é na citação de Maquiavel):

El oportunismo o utilitarismo que predicó el eminente Niccoló Machiavelli se justificaba en una época en que los partidos políticos no se distinguían por sus principios y programas sino solamente por los intereses materiales que defendían.

Se esta época é passado na Argentina, para o Brasil parece o tempo atual na mais precisa descrição. Brasil e Argentina - eis uma dupla inexplicável para mim. Eles têm 2 nobéis de Medicina, 1 de Química e 1 da Paz (correção: 2, vide a lista dos 5 no total), nós... somos simpáticos. Eles têm (ou tiveram) Oposição, nós vamos no rumo do México dos tempos do PRI, Partido Revolucionario Institucional (para quem não conhece a História, esclareço que não é piada - o partido é, ao mesmo tempo, "revolucionário" e "institucional" e governou o México de 1929 a 2000). Eles sabem ler e escrever, nós... Eles lembram decadência e nós, "Yes, we créu!".

Ambos tivemos uma debandada de intelectuais durante as ditaduras militares. Os nossos voltaram, todos. Os deles, nem todos. Mario Bunge continua fora, para o bem dele e da humanidade. E não é que não tenhamos tido homens e mulheres de valor que lutaram e não transigiram quanto a seu caráter, sua integridade. Tivemos, mas de alguma forma não parecem à altura desta outra figura que nos deixa hoje. Mercedes Sosa, La Negra tucumana, já não canta por aqui. A homenageiam Las Madres de la Plaza de Mayo e todo o país, todo o mundo. Muito conhecida cantando Gracias a la vida, por mim é preferida em Los pueblos de gesto antiguo (abaixo, direto do YouTube).

Enfim, parodio a quem nem lembro quem foi que se saiu com esta: Clementina morreu, João Nogueira morreu, Vinícius de Moraes morreu, Mercedes Sosa morreu... e eu não ando me sentindo muito bem. Pero Don Mario sigue, firme y fuerte.



sábado, 19 de setembro de 2009

90 anos de Mario Bunge

Não gosto de "Parabéns a você" (prefiro outras coisas ridículas), mas devo falar sobre os 90 que Mario Augusto Bunge cumple nesta Segunda, 21/09/2009. Físico por formação, filósofo por vocação, filho de deputado e de família culta, parente meio distante dos criadores da empresa que leva seu sobrenome, criador da Universidad Obrera aos 18 anos (Perón faria o favor de fechá-la, em mais uma ratificação da tragédia argentina), há muito tempo professor da universidade McGill, canadense.

Cheguei a ele de forma algo fortuita, ao orientar uma dissertação de mestrado no EGC, interdisciplinar. Como é comum entre engenheiros orgulhosos da sua formação, as lacunas ficaram mais claras depois dos 40 (felizmente eu já vinha me preparando com a leitura de The Civilized Engineer).

Diferentemente de outras (tentativas de) incursões na Filosofia, Emergence and Convergence [texto quase completo no G. Books] "desceu redondo": claro, simples, denso, idéias poderosas. Bem diferente da conclusão que tiro das leituras de Deleuze e Guattari - cada 2 páginas caberiam numa sentença se os autores soubessem escrever, e ainda assim a densidade de idéias seria baixa. (A afirmação bombástica é apoiada pela explicação que me deu um amigo professor, bem mais conhecedor de Filosofia do que eu: "Esses filósofos escrevem muito mal").

Duas coisas funcionaram em conjunto para que eu virasse um bungeano instantâneo (desde meados de 2008):

  • A crueza e facilidade com que Bunge afirma "tal coisa é uma falácia". Os ataques diretos de Bunge facilitam o trabalho de quem não sabe e está querendo aprender. Fica claro o que ele afirma e o que ele refuta e fica fácil contrastar as coisas (na grande maior parte das vezes, no meu caso, o contraste apenas aumenta o tamanho da goleada pró-Bunge).
  • A simplicidade, originalidade e poder do modelo CESM (composition, environment, structure, mechanism), que eu passei a propagandear (alguns ppts aqui) e presentemente emprego numa abordagem à modelagem de sistemas, ainda por publicar. O que dá para adiantar é que, como tudo é sistema, o CESM permite desenhar modelos que podem ser discutidos por peritos de áreas diversas, inclusive da Informática, que é tecnocêntrica - ou seja, não se dedica a enxergar o todo (bem, nenhuma disciplina é diferente, nesse ponto), mas apenas a tecnologia e as entradas e saídas do sistema social.

Mas um blog post sobre o 90o aniversário requer uma conversa mais casual e agradável. Então, aí vão algumas pílulas bungeanas para divertir ou quem sabe até curar alguma dor de cabeça irracionalista (há mais algumas em Wikiquotes):

"Permítame que, con característica humildad porteña, le ofrezca algunos consejos sobre política internacional y nacional."
(Introdução de um artigo de opinião no jornal La Nación, no qual Bunge dá conselhos sobre política externa e interna a Barack Obama).

Duas pérolas da entrevista a Núria Navarro d'El Periodico, em julho último:

Repórter: ¿El poder siempre corrompe?
Bunge: No. No corrompió a Nelson Mandela, un hombre con sólidos valores personales y sociales. Alguien dispuesto a hacer el bien al prójimo. A luchar por la paz, la conservación del medioambiente, la igualdad...

Bunge: En septiembre cumplo 90 años.
Repórter: Pues luce usted muy juvenil.
Bunge: Eso es porque evito el alcohol, el tabaco y la posmodernidad.

Sobre a falácia da globalização em "Tres mitos de nuestro tiempo: virtualidad, globalización, igualamiento" (2001):
Por ahora sólo atraviesan libremente las fronteras el capital financiero, los gérmenes patógenos y las malas costumbres.

No primeiro texto da série que La Nación vem publicando mensalmente desde 09/07/2008:

Cuando en las ciencias o técnicas se afirma que cierto problema es insoluble, se exige una demostración rigurosa de tal insolubilidad. Y cuando un científico o técnico somete un texto a publicación, lo menos que exigen sus jueces es que sea inteligible. ¿Por qué? Porque los seres racionales ansían comprender y porque solamente los enunciados claros son susceptibles de ser puestos a prueba para averiguar si son verdaderos o falsos.
En las humanidades ocurre o debería ocurrir otro tanto, pero no siempre es así. Nietzsche le reprochó su claridad a John Stuart Mill. En cambio, Henri Bergson, pese a ser intuicionista, escribió claramente y declaró que "la claridad es la cortesía del filósofo". La oscuridad es grosera, porque supone que el interlocutor es incapaz de entender y dialogar.

E, finalmente, eis o que Bunge diz em vários artigos e outras publicações sobre a má fama conquistada pelos termos sistema e sistêmico:

Quando cientistas sociais rigorosos contemporâneos ouvem a palavra "sistema", eles ficam propensos a sacar suas armas intelectuais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

EGC inova ingresso 2010 com nivelamento a distância

[Novo post sobre o processo seletivo em 2010 para ingresso em 2011]

O EGC/UFSC (Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina) abriu inscrições para o processo seletivo de ingresso no mestrado e doutorado em 2010. A pré-inscrição vai de 21/8 a 19/9, seguida de nivelamento com avaliação (21/9 a 1/11), entrega de anteprojeto de pesquisa, currículo Lattes e form de inscrição (até 1/11) e exame de avaliação (7/11 - presencial para candidatos ao doutorado). As informações detalhadas (e oficiais - isto aqui é só um blog post pessoal) devem ser vistas no Edital de Seleção na página do EGC.

A disciplina oferecida a distância versará sobre o conteúdo tratado até 2008 na disciplina regular-presencial e obrigatória Introdução à Engenharia e Gestão do Conhecimento. Com a inovação, a disciplina tradicional deixa de ser oferecida. Essa inovação fomenta a construção de uma compreensão, pelos novatos, sobre o objeto de pesquisa e formação do EGC/UFSC (o conhecimento como fator de produção) e amplia a oportunidade para que candidatos bem preparados possam empreender seus projetos de pesquisa de pós-graduação interdisciplinares no EGC. O EGC vem recebendo, desde 2004, entre 3 e 5 centenas de inscrições para as cerca de 60 vagas anuais para ingresso no mestrado ou doutorado.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Plágio-cópia literal: mas é claro que o problema não é esse

A partir de um toque da Andréa Bordin, que me mostrou a matéria na Folha - Obrigado.

A Folha de São Paulo repercute os plágios de 2 artigos inteiros publicados originalmente na Química Nova e reproduzidos inadvertidamente pela Revista Analytica em 2007. Por mais chocante que pareça, o caso é apenas uma prova de que o plágio incompetente também existe. Mas o problema da desonestidade científica não é esse.

Oxalá fosse ("Que bão se sesse"), pois a desonestidade pueril é fácil de ser combatida. Há ferramentas para pegar o plagiador "no pulo". No caso específico, uma mera verificação de plágio literal (sim, Google!, que pega todo o SciELO, que inclui a Química Nova) denunciaria os 2 artigos.

A desonestidade competente é que é difícil de remediar. Esse é O problema nos países cientificamente mais avançados (vide um festival de artigos que desancam a peer review, por exemplo, este). Consta que nosso visionário Barend Mons, parceiro do EGC e do Instituto Stela, usou suas invenções em concept cloud num estudo exploratório com uma amostra de 10 mil research proposals para certa big agência de fomento e pegou coisa que duvidavam: muitas engenhosas operações de obtenção de financiamento duplo - óbvio que nenhuma delas fez a chinelice de usar plágio literal.

No Brasil, o problema é agravado pela falta de transparência nos processos. Se, por exemplo, não há feedback aos autores nas concorrências públicas por financiamento para pesquisa, um eventual transgressor - seja autor, avaliador, gestor ou um consórcio desses - é praticamente inimputável. Ainda mais se o transgressor conhece os meandros do sistema, tem reputação ilibada, é impoluto, probo, erudito, douto, de caráter sem jaça... e tem poder e se enfurece e fica agressivo quando esquinado. Que doido vai querer contrastar? Quem vai para a cadeia é quem denuncia (Lembram do funcionário público corrupto que recebeu 3 mil reais in cash exposto em horário nobre na TV? Levou MESES para ser demitido e não consta que esteja preso, mas quem filmou foi preso imediatamente. Não foi na C&T, mas você entendeu a idéia).

Mal comparando, é como certos casos de políticos contra os quais "nada nunca foi provado", ops..., "nenhuma condenação definitiva existe", ops... sei lá. O fato é que a coisa toda fica facilitada quando não há transparência. Conclusão: se a peer review é podre quando há feedback, o que dizer da que se resolve entre quatro paredes e não deve explicação para ninguém?

Mas, para mim, o problema ainda não é esse. Não creio que haja muita transgressão na C&T brasileira (afinal, o orçamento da C&T é troco de picolé, se compararmos com outros setores da economia e do governo). Para mim, o crime é interditar, engavetar, esconder o registro do conhecimento produzido no processo de avaliação - os pareceres consubstanciados dos avaliadores. Que o diga quem já recebeu feedback de qualidade. Vencendo ou não o pleito, sempre se aprende muito. Sem feedback, a garantia é de condenação: não aprenderemos, não saberemos por que nosso artigo ou proposta de pesquisa foi aceito ou não. O efeito sistêmico também é conhecido: continuamos atrasados.

terça-feira, 10 de março de 2009

Possíveis rudimentos de uma psicanálise científica (descoberto mecanismo bioquímico alterável por maus tratos)

Desde que li as diatribes do meu guru Mario Bunge contra a psicanálise (que é uma picaretagem, que a psiquiatria científica não tem lugar para a psicanálise, que os construtos id-ego-superego não se sustentam cientificamente, que os poucos que tentaram fazer ciência em psicanálise não conseguiram confirmar nada e desistiram envergonhados...), presto atenção na questão psicanálise "versus" ciência (vai entre aspas nem sei bem por quê). Bunge põe a psicanálise no mesmo balaio da astrologia.

Se este fosse um blog de psicologia ou psiquiatria psicanalítica, eu temeria ser pulverizado telepaticamente por fundamentalistas (da psicanálise - pois suponho have-los em quantidade considerável). Mas não é, nem eu sou especialista ou sequer metido no assunto. Apenas interessado.

Ouvi Bunge e concordo com a parte fatual (Freud não fez ciência ao criar sua psicanálise - mas até aí nenhuma novidade, pois Maslow também não fez ciência ao criar sua pirâmide que tanta gente acha bacana e, pior, válida...), mas continuo respeitando a genialidade das concepções de Freud (coisa fundamental à grande ciência). Fiquei surpreso de descobrir que o próprio Freud escreveu (1895) um "Projeto para uma Psicologia Científica". Não conheço o documento; não sei se ele se propunha a investigar empiricamente, mas o título sugere isso.

Este comentário vem da leitura, no Jornal da Ciência, do artigo "Males da infância" de Marcelo Leite (originalmente publicado na Folha de São Paulo, 8/3/2009). O artigo não fala sobre a cientificidade da psicanálise, mas sobre a descoberta de um mecanismo (olha aí a sombra do Bunge) bioquímico diferenciado entre seres maltratados e não-maltratados na infância, o silenciamento de glicocorticóides na metilação do gene NR3C1.