terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para criticar a Bunge

[Aos avoantes que chegaram googlando, esclareço que o "a" do título é uma preposição e não um artigo. Isto é, "Para criticar a (Mario) Bunge" e não, por exemplo, "Para criticar a (empresa) Bunge". Pronto, esclarecido.]

Sou um bungeano da nova cepa, isto é, minhas leituras de Mario Bunge começaram por Emergence and Convergence (texto quase completo no Google Books), de 2003, publicado muito tempo depois do seu Treatise on Basic Philosophy (anos 1970-80) e outras peças mais conhecidas. Logo no capítulo 3 de E&C Bunge introduz o modelo CESM (composition-environment-structure-mechanism) de sistema, coisa que logo me pareceu poderosa, simples, muito esclarecedora e útil para modelagem de sistemas (computacionais, inclusive). A primeira aparição do CESM que conheço é de um artigo de 1997, onde toda a essência do modelo está presente aos pedaços (não há o enunciado "este é o CESM"). Tratando-se do nonagenário Bunge, portanto, é coisa muito recente.

O problema é que, de tanto citar (o modelo CESM em particular e o sistemismo em geral), corro o risco de ser visto como especialista em Bunge, quando na verdade sou um diletante que encontrou algo muito útil na filosofia bungeana. Suponho que leva muito mais tempo para passar de diletante (com minha formação em engenharia, que praticamente exclui filosofias e "humanidades") a especialista em tão vetusto assunto.

Ainda assim (ou seja, mesmo me excusando), não estou livre de ser interpelado como conhecedor da filosofia de Bunge - em especial, por alunos. Uma das cutucadas mais inconvenientes é "Quais são as principais críticas contrárias a Bunge?" (pois é óbvio que las hay, e eu deveria conhecer). Bem... Além dos ataques frontais à psicanálise (que é um embuste, que fica no mesmo balaio da astrologia), Don Mario já emitiu algumas opiniões sobre rock (que não é música) e futebol (que não é um fenômeno social, mas esportivo) que, longe de suas contribuições principais à ontologia e à epistemologia, é por onde alguns críticos o desmerecem.

Pois bem: Vi no blog GrupoBunge a "denúncia" de um blog post difamatório (em outro blog) que já recebeu mais de 100 comentários, grande parte deles de excelente qualidade. Esse blog post, em si, tem algumas virtudes, mas é superado em muito por diversos comentaristas (embora também haja algum bate-boca nas cento e tantas entradas). Eu até comentei no GrupoBunge sobre o que li (e me diverti) no tal blog post, de onde destaco um comentário sintético e "na mosca", a meu ver:

Comentário #13 por Carlos González, Abril 6, 2007:
“El problema, o lo que molesta, de autores como Bunge y otros, es que tratan de demarcar límites bien establecidos entre disciplinas, artes, etc. (independientemente si lo compartimos o no), lo que va en contra del discurso predominante de lo políticamente correcto: de la integración y respeto hacia el otro en todas sus facetas. En general, salirse de lo políticamente correcto es un trabajo sucio y sólo para cojonudos (‘los hay en todos los bandos, no sólo en los liberales de derecha’).
En todo caso, me reí muchas veces con la columna y tb los comments.”

Sem mais delongas, para quem gosta de filosofia da ciência e de debates nesse mundo 2.0, eis o tal blog post:

Mario Bunge: un charlatán más en el reino de los charlatanes, em 16 de novembro de 2006, no blog "Soy donde no pienso", por Leandro Andrini (por coincidência, um físico de La Plata, como Bunge).

2 comentários:

  1. Não tive tempo de ler todos os comentários, mas gostaria de deixar uma observação. Para mim, Bunge é inegável como um filósofo da ciência completo.

    A questão é que existe uma corrente de sociólgos e filósofos que criticam não só a Bunge, mas aos filósofos da ciência clásicos, como Bunge e Popper.

    O Latour é um deles (talvez o principal). Latour alega que a filosofia da ciência clássica se restringe a tratar da "ciência pronta" (ou "ciência acabada") e não se interessa pela "ciência em construção". Que essa sim deveria ser analisada por suas implicações sociais. Latour afirma que ao olhar apenas para a ciência acabada, os filósofos deixam de considerar as incertezas, decisões, controvérsias, concorrências da ciência em construção.

    É complicado explicar num post, ainda mais por uma administradora apenas interessada por filosofia, mas há que ver se por trás dessas críticas a Bunge, não está a defesa de uma corrente de pensamento. Me parece que sim.

    Alessandra

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  2. Obrigado pelo comentário, Alessandra.
    Interessante essa perspectiva que tu trazes. Eu não conheço essas defesas da "ciência em construção", mas a idéia parece interessante, se "em construção" não significar simplesmente "sem rigor" (na verdade, do lago bungeano, a coisa é posta desta maneira - Bunge faz uma distinção clara entre "wild guesses" - balaio no qual ele põe, por exemplo, Steven Pinker & friends -, e conjeturas fundamentadas, plausíveis). Assuntinho que é "pano para manga"...
    Vinícius

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