domingo, 21 de março de 2010

Peer review dos gringos (e a nossa)

O blog Química de Produtos Naturais, do professor Roberto Berlinck (USP São Carlos), divulgou (aqui) este editorial da Nature Chemical Biology que descreve seu processo de peer review. Eu aproveito para destacar algumas caraterísticas (e confrontá-las com a peer review usual nas agências de fomento do Brasil, na qual há revisão e há "pares" - e isso resume as semelhanças):

  • O comitê avaliador é responsável por tomar decisões (não, o resultado não é uma média aritmética dos escores dos revisores, até porque cada revisor tem sua régua peculiar).
  • O comitê toma uma decisão considerando os pareceres dos revisores e comunica a decisão os autores, anexando cópias dos pareceres consubstanciados (sim, na peer review a vera, sempre há pareceres, sempre são consubstanciados, e sempre são devolvidos aos autores; não, a mera comunicação "foi/não foi aceito" não seria suficiente).
  • O comitê informa os revisores sobre a decisão e distribui cópias dos pareceres também aos revisores (não, longe disso - o objetivo do processo não é manter o statu quo; pelo contrário, o revisor que tem a chance de aprender com seus colegas ganha a oportunidade de verificar se está puxando o nível para cima ou para baixo; o convite para avaliar não é uma concessão para "construção de igrejinha").

Ou seja, quem dirige o processo compreende que não se trata apenas de selecionar trabalhos científicos, mas de conduzir um processo seletivo no qual não se exclui voluntária e obstinadamente a reflexão. É permitido pensar; é permitido aprender; é necessário explicar a decisão. E olha que a avaliação conduzida pela revista não envolve recursos públicos (pelo menos, diretamente).

Uma observação final: o debate acalorado, as acusações sérias à peer review como método de avaliação e controle de qualidade diz respeito a essa forma de avaliação praticada pela Nature Chemical Biology. Os gringos sequer concebem uma peer review sem feedback - isso é invenção brasileira.